terça-feira, 19 de junho de 2007

State of the Art da Psicologia

Visitar o fórum de psicologia deprime-me. Não pelo conteúdo em si, mas pelo estado a que as coisas chegaram. Somos tantos e tantas na mesma situação e por mais que nos unamos, não se avista qualquer tipo de solução.

Somos milhares de técnicos sem emprego. Milhares de pessoas que investiram anos numa profissão e que não encontram saída. Sabem quantos cv´s de psicólogos estão colocados no site do IEFP? 1749. Imaginam quantas mais pessoas haverá por aí em situação semelhante sem estarem inscritas no centro de emprego?

Fico com náuseas ao ler os testemunhos e rever-me em cada um deles, com mais ou menos experiência, mas com o mesmo fado.
Por outro lado, acho hilariantes os comentários que surgem, por vezes, do género “mas vocês, psicólogos não querem fazer mais nada!” – fazemos, respondo eu, fazemos: secretariamos, vendemos malas ou sapatos em centros comerciais, atendemos em caixas de supermercado, fazemos colares, bonequinhos em biscuit e quadrinhos com técnica do guardanapo para vender nas feiras… E fazemos “caridadezinha” em regime voluntário, na esperança que um dia alguém nos pague para fazermos aquilo para o qual nos formámos.
Aquelas (e aqueles) que têm a coragem (ou a ingenuidade) de abrir aquilo a que um professor meu um dia chamou “chafarica”, têm ainda o privilégio de poder pagar (e bem) para poder exercer a sua profissão durante uma ou duas horinhas por semana…

Os meses transformam-se em anos, o desespero aumenta e começa a corrida à formação pós-graduada: coleccionamos pós-graduações, workshops, mestrados, doutoramentos e, mesmo quando não nos vendem gato por lebre, a situação laboral mantém-se (salvo seja, passa a ser algo do género: “Sra. Doutora, não terá estes castanhos em 37?”). Quem ganha são as faculdades e os institutos e empresas de formação criadas por outros psicólogos que tiveram de inventar uma solução para a sua própria falta de empregabilidade.

A saída mais airosa para este impasse será, talvez, baixar os braços e adoptar a atitude do (como já ouvi por aí) “eu tirei o curso para desenvolvimento pessoal” e, aceitar uma outra qualquer profissão que surja. No entanto, e talvez para meu desgosto, não sou capaz de aceitar esta possibilidade. Eu sou Psicóloga Clínica e nunca deixarei de o ser, por muitos anos de papeis que arquive, por muitos anos de telefonemas que atenda, desta guerra eu não desisto, porque se me foi permitido formar-me, se me foi permitido trabalhar e, sobretudo se eu pude, através do meu trabalho, melhorar a vida das pessoas com as quais tive contacto, então a luta está para durar!
O preço a pagar é alto: a maternidade fica adiada indefinidamente e o relógio biológico vai pressionando, e os anos vão passando… como diz o ditado: não se pode ter tudo, mas neste caso, estamos completamente em stand by!

1 comentário:

125_azul disse...

Bem, assim vale a pena "ressuscitar"! O post está maravilhoso, sóas vredades que contém encheriam uma dúzia de gabinetes de psicologia, tal a "deprimência". Beijinhos e toca a não desanimar!