quarta-feira, 22 de agosto de 2007

125 Azul

Foi sem mais nem menos

Que ontem começou a tocar na rádio e me transportou nas suas asas de volta à infância…

Que um dia selei a 125 Azul
Foi sem mais nem menos
Que me deu para arrancar
Sem destino nenhum.

Naquele instante, dei por mim a olhar pela janela de um carro para as planícies alentejanas. Não sei ao certo quando, nem onde.

Foi sem graça nem pensando
Na desgraça que entrei pelo calor
Sem pendura que a vida já me foi dura
Para insistir na companhia.


Mas mesmo sem olhar, senti que lá estava o meu pai, o que me levou a pensar que estaríamos num daqueles fins-de-semana ditados pelo tribunal de família…

O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem
À entrada da auto-estrada

E voo para outras paragens… estou em casa e, ainda estou na infância pois os móveis da sala ainda são os antigos… sinto os cheiros, sinto a quebra de luz de fim de dia, sinto um peso de solidão.

A ponte ficou deserta nem sei mesmo
Se Lisboa não partiu para parte incerta.
Viva o espaço que me fica pela frente
E não me deixa recuar
Sem paredes sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar.
Talvez, um dia me encontre.
Sim, talvez me encontre.

E volto para junto do rádio, volto ao presente, à idade adulta e penso…

Curiosamente, dou por mim pensando
Onde isto tudo me vai levar
De uma forma ou de outra há-de haver
Uma hora para a vontade de parar

Na magia que se esconde por detrás de canções como esta, na sua capacidade de se tornar parte de nós, de se esconder no fundo de nós…

Só que à frente o bailado do calor
Vai-me arrastando para o vazio
E com o ar na cara vou sentindo
Desafios que nunca ninguém sentiu.

Apenas à espera de ser tocada para nos levar nas suas asas, de volta aos tempos que já vivemos…

Entre as dúvidas do que sou
E onde quero chegar
Um ponto preto quebra-me
A solidão no olhar.

E interroguei-me sobre que caminhos ela já vos levou a trilhar, que memórias? Que emoções?

Será que existe em mim
Um passaporte para sonhar
E a fúria de viver
É a mesma fúria de acabar


Foram caminhos felizes, ou tristezas passadas? Mágoas ou sonhos perdidos?

Foi sem mais nem menos
Que selei a 125 Azul
Foi sem mais nem menos
Que partiu sem destino nenhum


Ou será só em mim que ela ecoa?

Foi com esperança
Sem ligar muita importância
Aquilo que a vida quer
Foi com força acabar por se encontrar
Naquilo que ninguém quer.

Quando terminou, pensei que a sua magia reside no facto de ter nascido de um sentimento verdadeiro, de uma saudade que só sentem os que ficaram para trás.

Mas Deus leva os que quer
Só Deus tem os que ama.


4 comentários:

Mariah disse...

Muito, mas mesmo muito bonito.

Por curiosidade, a imagem é de um quadro? se sim, de quem é?

Morgenita disse...

Oi Mariah! Sim, é um quadro. É o Tequila da Frida Kahlo.

Bjocas

C_mim disse...

Frida Kahlo??? Huuummmm...

125_azul é uma música muito poderosa e intemporal. Apesar de como dizes ela nos remeter para outro tempo...

greentea disse...

nada acontece por acaso
nada

foi sem mais nem menos...

um beijo